13 anos fazendo um filme! — Moagem revela a transformação dos engenhos de rapadura no Sertão Paraibano

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O filme acompanha a transformação do histórico Engenho João Luiz, localizado na zona rural de Nazarezinho (PB), o filme retrata, de forma poética e sensível, as mudanças tecnológicas e culturais que marcaram a produção de rapadura no Sertão paraibano

Após mais de uma década de produção, o documentário MOAGEM, dirigido por Ramon Batista, finalmente chega ao público em 2025. Iniciado em 2011, o filme acompanha a transformação do histórico Engenho João Luiz, localizado na zona rural de Nazarezinho (PB), o filme retrata, de forma poética e sensível, as mudanças tecnológicas e culturais que marcaram a produção de rapadura no Sertão paraibano.

“A ideia do documentário surgiu de forma espontânea, durante as filmagens do meu primeiro filme, quando soubemos que o motor a vapor do Engenho João Luiz — utilizado há décadas — seria desativado e substituído por um motor elétrico. Decidimos registrar esse marco e gravamos duas diárias ainda em 2011”, comenta o diretor Ramon Batista.

Ao longo de 13 anos de filmagens, Moagem se transformou e amadureceu junto com o território que retrata. Em 2015, durante a pré-produção de Aroeira, seu terceiro curta-metragem, Batista voltou ao engenho para registrar sua nova fase, agora movido à eletricidade. Nesse período, o diretor de fotografia Marcelo Quixaba integrou-se ao projeto, também como produtor do filme. E o personagem Zizinha — guardião do engenho mais antigo em funcionamento — passou a protagonizar a narrativa.

Em 2017, o projeto ganhou novos contornos: o que antes seria um curta-metragem tornou-se um longa documental, ampliando seu olhar para incluir outros engenhos em funcionamento e estruturas abandonadas da região. Assim, Moagem passou a construir um retrato mais abrangente da cultura da rapadura na região — uma tradição ainda viva, produzindo uma rapadura com doce sem igual, e livre de aditivos.

Com o apoio da Filmes Urgentes e da recém-criada Caiçara Filmes (produtora de Ramon Batista), a produção seguiu firme. Em 2020, a Taquary Filmes somou-se à equipe, permitindo novas filmagens mesmo durante a pandemia de COVID19. As gravações desse período documentaram o impacto do isolamento social nas comunidades rurais e no cotidiano dos engenhos, ampliando a dimensão histórica e humana do filme.

Em 2021, Moagem enfrentou um momento de luto com a perda de Ely Marques, montador dos primeiros filmes de Ramon e que também assinaria a montagem deste trabalho. Ainda assim, o projeto seguiu, recebendo o apoio de cineastas como Torquato Joel e Bertrand Lira, que contribuíram para novas gravações — entre elas, o registro do Engenho Maria Dalzira, o primeiro da região com nome de uma mulher.

O ciclo de filmagens foi concluído em 2024, com o apoio da Lei Paulo Gustavo, que viabilizou as etapas finais de captação e o início da pós-produção. A jornada envolveu importantes parcerias — Pigmento cinematográfico, Extrato de Cinema e InCartaz — e uma equipe dedicada, formada por profissionais como Bruno Alves, Mayara Valentim, Guga Rocha, Duder Rodrigues, Carine Fiúza, Paulo Roberto, Rosivaldo da Silva e Ester Rosendo, Bruno de Sales, entre outros.

Mais do que um registro histórico, MOAGEM é uma ode à tradição, à memória e à cultura do Sertão paraibano. O filme destaca-se também por ser um dos primeiros longas-metragens realizados por uma nova geração de cineastas sertanejos surgida nos anos 2010, marcada pelo olhar autoral e pela valorização de suas origens.

Com uma filmografia enraizada em sua própria comunidade, Ramon Batista faz de Moagem não apenas um documento sobre o fim de uma era, mas também um testemunho poético sobre permanência, afeto e transformação no Sertão nordestino.

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